segunda-feira, 13 de junho de 2016

Queria falar sobre ti, sobre essas borboletas coloridas que se abrigaram dentro de mim e dançam sem intervalos, sem pausa para o almoço, para um café ou um cigarro. Falar sobre esses sorrisos que os passantes andam encontrando em meu rosto, sobre essa vontade que eu tenho de existir fora dos lençóis, de levantar e calçar os sapatos e ser todas as coisas que o mundo nos permite ser.
Gostaria de transcrever essas conversas do silêncio, esses brilhos que os olhos trocam entre si contando coisas que a boca não sabe falar, que os dedos não sabem escrever. Falar sobre o gosto de sua boca por minha pele, sobre a marca invisível que seus lábios tatuam em meu corpo a cada toque; sobre o carinho da sua voz me contando sobre a vida, sobre seu mundo particular, sobre tudo o que te fez você.
Queria contar sobre o poder, sobre a calma e a força que suas mãos segurando as minhas são capazes de trazer; sobre esses pedaços soltos de mim, desencaixados do quebra-cabeça, bagunçados no fundo da última gaveta da cômoda, e que agora cuidadosamente sinto-me capaz de encaixar com suas respectivas peças;  sobre o cuidado com que você me tem em seus braços, sobre a delicadeza em não me machucar e não ser machucada.  
Gostaria de falar sobre nós, sobre nossas pernas enozadas entre as cobertas, sobre meus dedos valsando lentamente em suas costas, sobre meus pés aquecendo os seus, sobre nossas vozes diminuindo o tom e nossas bocas se encontrando; sobre o nó que sinto no estômago quando abro a porta do prédio e encontro contigo no portão, sobre como meu corpo derrete quando encontra com o seu, como meu coração salta pela boca quando você avisa que está chegando.
Queria contar sobre tudo isso e mais, sobre o universo lindo que você é e sobre a sede que eu tenho de conhecer cada canto dele.

domingo, 28 de julho de 2013



Traços da lua, sem sequer pedir licença, atravessam a vidraça e tiram nossos corpos pra brincar. Dançam por sua pele, vestindo de claridade a nudez de seu torso. Contornam delicadamente o perfeito desenho de seu ventre e seios, de suas finas coxas, das macias mechas negras que gracejam em seus ombros e pescoço.
Valsam pelas maçãs de seu rosto, beijando-lhe as têmporas, acariciando-lhe a boca macia, os olhos grandes com seu olhar febril de quem cria infinitos particulares e neles deixa que transborde o amar.
A lua festeja por seus braços pequenos, pela doce fortaleza de suas mãos presas as minhas.
E a cada toque nosso, seus feixes se perdem sem saber quem é quem: desenhando na escuridão dois corpos como sendo um só.

terça-feira, 12 de março de 2013

07:34 a.m.



07:34 a.m.
Panela grande com água fervendo na menor boca do fogão; cafeteira sendo ligada; garfos arranhando a porcelana fraca dos pratos; passo pesado junto à voz trovejante de quem acordou sem paciência para o dia. Esses e outros sons que escapam pelas janelas e portas dos andares inferiores e passeiam com pressa até meus ouvidos, dançando cada qual à sua moda.
Temo as luzes, as horas, a infinidade de instantes que seguem o despertar. Temo a solidão e o silêncio, as torradas ao lado de uma única xícara. Temo que meu olhar encontre com um travesseiro vazio, com meu cheiro monopolizando os lençóis.
Mantenho meus olhos fechados, espreguiçando-me com descuido pela cama, deixando que minhas mãos e pés façam sua busca entre os cobertores. Encontrando, com a ponta morna de meus dedos, suas costas nuas, sua nuca fria, seus macios fios de cabelo. Aproximo-me. Beijo-lhe os ombros, aninho-me ao calor de seu corpo, ao conforto de sua pele encontrando a minha.
E então... Enquanto nossas respirações ritmam; enquanto suas pequenas e macias mãos levam a minha para um passeio breve por sua barriga, costelas, seios, pescoço e queixo, terminando em um beijo terno na ponta de cada dedo; enquanto houver nós... Que meu olhar encontre com as luzes! Que seja despertado todo meu ser! Que se sigam as horas, que se façam os instantes! Pois não haverá solidão, não haverá silêncio, não haverá temor. As xícaras formarão um par sobre a mesa, a roupa de cama jamais vestirá a tristeza de um perfume só.

domingo, 10 de março de 2013



Quem de nós restará quando nossa canção não mais tocar? O que sobrará de minha calma quando, em meio à ciranda, sua alma encontrar outra melodia para brincar? Que tom tomará meus olhos quando o reflexo dos seus os abandonar? Por onde andará minha voz quando a sua se calar? Que textura terá minha pele quando de seu toque não mais lembrar? Que sabor terão meus beijos quando sua boca não mais os guardar? 
Quem atenderá a campainha para quem não volta? Quem abrirá a porta para quem se recusa a entrar? Quem calará o silêncio quando seu barulho incomodar? Quem sobreviverá quando o vazio chegar?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

"Só Sei Dançar Com Você"



Sob as luzes fracas que invadem o cômodo pela vidraça, encontro com seu rosto no travesseiro ao lado.  Entre os sons abafados vindos da rua e a melodia que parece flutuar do rádio para contornar nossas silhuetas e compassar nossas respirações, desejo mais do que nunca que meus olhos possam tornar-se parte dos seus, que minha pele possa gentilmente bordar-se a sua.
A cada toque uma pequena peça parece encontrar seu espaço no quebra-cabeça que passei a vida inteira tentando montar. A cada beijo roubado um impulso de abraçá-la e implorar que não deixe que o tempo nos atinja, que me ajude a construir ao redor de nossa eternidade um forte de travesseiros, com dragões e cavaleiros de armadura.
Repito em voz baixa que não aceito que mude. Não aceito que exista outra realidade em que sejam outros braços a me aninhar, em que meus cachos existam para algo além de seus dedos, em que meus ouvidos esperem mais do que seus sussurros, em que meus lábios não se façam destino de seus beijos.
Repito, esperando que o ritmo torne-se uma barreira para o tempo, que me nego a aceitar que algum dia suas pernas já não se estrelassem as minhas, que nossas mãos já não se encontrem, que nossos passos descompassem, que existam canções de amor que não falem de nós.