quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

"Só Sei Dançar Com Você"



Sob as luzes fracas que invadem o cômodo pela vidraça, encontro com seu rosto no travesseiro ao lado.  Entre os sons abafados vindos da rua e a melodia que parece flutuar do rádio para contornar nossas silhuetas e compassar nossas respirações, desejo mais do que nunca que meus olhos possam tornar-se parte dos seus, que minha pele possa gentilmente bordar-se a sua.
A cada toque uma pequena peça parece encontrar seu espaço no quebra-cabeça que passei a vida inteira tentando montar. A cada beijo roubado um impulso de abraçá-la e implorar que não deixe que o tempo nos atinja, que me ajude a construir ao redor de nossa eternidade um forte de travesseiros, com dragões e cavaleiros de armadura.
Repito em voz baixa que não aceito que mude. Não aceito que exista outra realidade em que sejam outros braços a me aninhar, em que meus cachos existam para algo além de seus dedos, em que meus ouvidos esperem mais do que seus sussurros, em que meus lábios não se façam destino de seus beijos.
Repito, esperando que o ritmo torne-se uma barreira para o tempo, que me nego a aceitar que algum dia suas pernas já não se estrelassem as minhas, que nossas mãos já não se encontrem, que nossos passos descompassem, que existam canções de amor que não falem de nós.