Em frente ao espelho de sua penteadeira, observava os traços imperfeitos de seu rosto, desviando os olhos de seu reflexo apenas para observar o pedaço de foto amassado em suas mãos. Prometera a si mesma esperar por ela o tempo que fosse preciso. Prometera guardar a foto dela no fundo falso da gaveta e nunca deixar que alguém a encontrasse. Prometera o amor em segredo.
Mas agora, depois de tantos anos, como poderia esconder algo tão importante? Como poderia manter todas essas borboletas dentro de si sem deixar que nenhuma delas escape, procure outros corpos, espalhe seu segredo?
Olhando para seu próprio rosto não podia deixar de se perguntar se havia alguém para amá-la, para guardá-la no fundo falso da gaveta, para pedi-la em casamento um milhão de vezes em seus sonhos. Havia alguém que alimentasse borboletas por ela? Haveria alguém que nas madrugadas frias de sábado apertasse as mãos para não pegar o telefone, para não discar seu número, para não contar o quanto se importa? Haveria alguém que se importasse? Haveria alguém que a amasse como ela ama?
Apertou outra vez a foto contra o peito, deixando que lágrimas vertessem de seus olhos castanhos, deixando que o retrato amassado preenchesse uma parte de seus vazios. E seria isso tudo realmente amor?
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