Encontrava-me outra vez entre a densa névoa do pântano, tateando com cuidado os troncos úmidos das árvores. A água fria atingia meus joelhos, e a cada instante meus passos pareciam pesar mais. Senti, de repente, dedos macios agarrando meus tornozelos por debaixo d’água, e bruscamente fui puxada. Estiquei os braços em busca de algo que me segurasse, que me impedisse de afundar. Mas não havia nada, não havia ninguém. Minha boca e nariz enchiam-se de água, e minhas pernas inutilmente lutavam para voltar.
E então eu abri os olhos. Lá estava ela, encolhida ao meu lado na cama. Seus lábios entreabertos, sua respiração irregular, seus cabelos castanhos caindo sobre seus olhos, a pele macia e pálida de seu pescoço, sua mão direita, tão pequena com suas covinhas, gentilmente ao lado de seu rosto. Linda, com finos raios de sol dançando em suas bochechas.
E facilmente já não lembrava de ter algum dia afundando, de ter por algum momento estado perdida no pântano. Já não entendia de solidão, de lençóis que vestem um único perfume, de não ser encantada a cada despertar. Só sabia de estar ali, com seu braço direito sobre minha cintura, tendo em meu rosto estampado o sorriso mais doce.