Meus dedos dançam sobre as letras semi-apagadas das teclas de minha máquina de escrever, parando, hora ou outra, para um trago, uma tragada, um disfarçado suspirar. Minhas mãos parecem convidar minha memória para uma valsa lenta e longa com todas as pontas soltas, laços malfeitos, palavras malditas, silêncios fora de hora. Minha pele, meus ossos, meus restos e rastros, imploram por essas migalhas de você, esses pedaços do que fomos, do que poderíamos ter sido.
Meus olhos correm, como se tivessem pés, braços e controle sobre si mesmos, pelas cortinas cerradas de sua sala de estar, procurando por sombras, por olhos nos cantos, por luzes acesas. Meus olhos parecem sentir mais sua falta do que eu sinto.
Minha cintura procura, como se tivesse olhos e vontade própria, por seus braços e mãos comprimindo-a contra ti. Minhas maças do rosto procuram, como se rastreasse cada rosto que encontra, por seus lábios, por seu hálito de cereja e noite sem dormir. Meus pés procuram por seus passos, por algum ritmo que possa seguir. Meus olhos sentem falta do azul calmo de seu olhar, e minha boca sente falta de sua pele áspera, de sua nuca úmida, de seus cabelos desgrenhados atrapalhando nossos beijos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário