domingo, 28 de julho de 2013
Traços da lua, sem sequer pedir licença, atravessam a vidraça
e tiram nossos corpos pra brincar. Dançam por sua pele, vestindo de claridade a
nudez de seu torso. Contornam delicadamente o perfeito desenho de seu ventre e
seios, de suas finas coxas, das macias mechas negras que gracejam em seus
ombros e pescoço.
Valsam pelas maçãs de seu rosto, beijando-lhe as têmporas, acariciando-lhe
a boca macia, os olhos grandes com seu olhar febril de quem cria infinitos
particulares e neles deixa que transborde o amar.
A lua festeja por seus braços pequenos, pela doce fortaleza
de suas mãos presas as minhas.
E a cada toque nosso, seus feixes se perdem sem saber quem é
quem: desenhando na escuridão dois corpos como sendo um só.
terça-feira, 12 de março de 2013
07:34 a.m.
07:34 a.m.
Panela grande com água fervendo na menor boca do fogão; cafeteira sendo ligada; garfos arranhando a porcelana fraca dos pratos; passo pesado junto à voz trovejante de quem acordou sem paciência para o dia. Esses e outros sons que escapam pelas janelas e portas dos andares inferiores e passeiam com pressa até meus ouvidos, dançando cada qual à sua moda.
Temo as luzes, as horas, a infinidade de instantes que seguem o despertar. Temo a solidão e o silêncio, as torradas ao lado de uma única xícara. Temo que meu olhar encontre com um travesseiro vazio, com meu cheiro monopolizando os lençóis.
Mantenho meus olhos fechados, espreguiçando-me com descuido pela cama, deixando que minhas mãos e pés façam sua busca entre os cobertores. Encontrando, com a ponta morna de meus dedos, suas costas nuas, sua nuca fria, seus macios fios de cabelo. Aproximo-me. Beijo-lhe os ombros, aninho-me ao calor de seu corpo, ao conforto de sua pele encontrando a minha.
E então... Enquanto nossas respirações ritmam; enquanto suas pequenas e macias mãos levam a minha para um passeio breve por sua barriga, costelas, seios, pescoço e queixo, terminando em um beijo terno na ponta de cada dedo; enquanto houver nós... Que meu olhar encontre com as luzes! Que seja despertado todo meu ser! Que se sigam as horas, que se façam os instantes! Pois não haverá solidão, não haverá silêncio, não haverá temor. As xícaras formarão um par sobre a mesa, a roupa de cama jamais vestirá a tristeza de um perfume só.
domingo, 10 de março de 2013
Quem de nós restará quando nossa canção não mais tocar? O que sobrará de minha calma quando, em meio à ciranda, sua alma encontrar outra melodia para brincar? Que tom tomará meus olhos quando o reflexo dos seus os abandonar? Por onde andará minha voz quando a sua se calar? Que textura terá minha pele quando de seu toque não mais lembrar? Que sabor terão meus beijos quando sua boca não mais os guardar?
Quem
atenderá a campainha para quem não volta? Quem abrirá a porta para quem se
recusa a entrar? Quem calará o silêncio quando seu barulho incomodar? Quem
sobreviverá quando o vazio chegar?
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