terça-feira, 12 de março de 2013

07:34 a.m.



07:34 a.m.
Panela grande com água fervendo na menor boca do fogão; cafeteira sendo ligada; garfos arranhando a porcelana fraca dos pratos; passo pesado junto à voz trovejante de quem acordou sem paciência para o dia. Esses e outros sons que escapam pelas janelas e portas dos andares inferiores e passeiam com pressa até meus ouvidos, dançando cada qual à sua moda.
Temo as luzes, as horas, a infinidade de instantes que seguem o despertar. Temo a solidão e o silêncio, as torradas ao lado de uma única xícara. Temo que meu olhar encontre com um travesseiro vazio, com meu cheiro monopolizando os lençóis.
Mantenho meus olhos fechados, espreguiçando-me com descuido pela cama, deixando que minhas mãos e pés façam sua busca entre os cobertores. Encontrando, com a ponta morna de meus dedos, suas costas nuas, sua nuca fria, seus macios fios de cabelo. Aproximo-me. Beijo-lhe os ombros, aninho-me ao calor de seu corpo, ao conforto de sua pele encontrando a minha.
E então... Enquanto nossas respirações ritmam; enquanto suas pequenas e macias mãos levam a minha para um passeio breve por sua barriga, costelas, seios, pescoço e queixo, terminando em um beijo terno na ponta de cada dedo; enquanto houver nós... Que meu olhar encontre com as luzes! Que seja despertado todo meu ser! Que se sigam as horas, que se façam os instantes! Pois não haverá solidão, não haverá silêncio, não haverá temor. As xícaras formarão um par sobre a mesa, a roupa de cama jamais vestirá a tristeza de um perfume só.

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